Desenredo

Apresentação:

Paulo Roberto Savassi Rocha

Criança ainda, desde quando me lembro, a poesia mantém morada em mim. Os versos, conhecia-os de cor, recitava-os, em voz alta, de todos aqueles poetas, de Bilac, Castro Alves, Gonçalves Dias, Menotti Del Picchia, de Alvarenga Peixoto. Escreve, foi depois. Na adolescência talvez, tempo onde somos muito sem ainda sermos ninguém, tempo onde se desenham os primeiros propósitos em direção à vida. Foi quando a palavra começou a fluir, ganhar formas, os versos brotavam ainda tímidos, indecisos, sem realces, mas sem esforço.

Os anos passaram e fui acumulando, ao longo da vida, um punhado deles, diversificados na forma e no conteúdo, espontâneos, nascidos sem pretensão. Vezes tantas tinha pressa de registrá-los no papel, quando brotados em horas impróprias, com medo de que, de repente, desaparecessem da mente. Assim foi e ficou sendo.

Agora, nesta nova fase da minha vida, quando os 70 anos me atingiram de forma implacável, resolvi reunir alguns deles em Desenredo que sucede Catarse, publicado no distante 1993.

Minha poesia não obedece regras nem ordem nenhuma.

Ela apenas se vale da essência dessa forma de expressão, uma espécie de sublimação.

“Ando de um lado para outro dentro de mim” disse, certa vez, Clarice Lispector. É bem assim. Todo poeta é um transeunte nessa procura que vai muito além das palavras. Tudo em três dimensões.